Mais um dia chato de terça a noite, voltando do trabalho o relógio
marcava cerca de dez da noite, fazer hora extra era um saco, mas fazer hora
extra no auge do inverno era um saco duplo.
Eu ficava olhando para os pequeninos flocos de neve caindo no
meu coturno e pensava comigo,“ Preciso
comprar um carro.” Não era assim tão simples devido a minha pouca renda
mensal e uma ex mulher sugadora. Mas afinal andar cinco ou seis quilômetros não
fazia mal a ninguém.
No meio do meu trajeto melancólico de trabalho-casa vi uma garotinha
encolhida frente a um portão grande, atual casa dos Swan. Ela mantinha a cabeça
abaixada entre as pernas e repetia um chorar baixinho e um soluço cortante,
aparentava ter uns dez anos no Maximo onze, seus cachinhos dourados estavam
cobertos por neve fria ela vestia apenas um vestidinho branco de seda e tremia
de frio.
Fiquei comovido pela cena, não podia deixa-la ali sem amparo
algum. Aproximei-me e toquei seu ombro. Ela levantou a cabeça tão rapidamente
que eu me assustei, tinha algo errado com os seus olhos, onde um dia parecia
ter havido um azul vivido era quase branco como a esclera, já onde havia o
branco estava colorido por um vermelho irritado.
Eu sempre acreditei em histórias de monstros e fantasmas e
confesso que tremi quando ela me olhou daquele jeito. Porém eu não deveria me
ligar a bobagens e abandona-la ali, então perguntei:
—O que você esta
fazendo aqui a fora assim? Aconteceu alguma coisa.
Ela secou as lagrimas dos olhinhos estranhos, pegou a minha
mão e disse que iria me mostrar.
Adentramos os portões da casa dos Swan e eu percebi o quanto
silencioso de mais a propriedade parecia.
Quando abrimos as portas da sala principal eu fiquei
horrorizado, os membros de toda a família estavam mortos, o cômodo coberto por
sangue gélido e apenas um deles tinha uma arma em mãos com um buraco de saída no
crânio que espirrara sangue por toda a parede bem pintada.
Trêmulo e com receio de perguntar eu me dirigi a garotinha:
—O- o que aconteceu aqui?
A pequena menina debulhada em
lágrimas novamente e em soluços começou falar:
—O senhor Arnold Swan Irmão do dono da propriedade chegou na reunião de família
e bêbado e raivoso, primeiro ele começou gritar e a derrubar as coisas, eu
ouvia tudo quietinha lá embaixo, de repente ouvi um tiro BANG! E todos começaram
a gritar depois ouvi os berros das meninas e mais BANGs da arma, foi quando o ultimo BANG disparou e
tudo ficou num silêncio absoluto. Ele não sabia que eu estava aqui eu sou uma
criança rejeitada por ter sido fruto do pecado do senhor Swan e sua filha
Elisa. Só hoje me libertei de lá e hoje todos estão mortos.
Eu a peguei no colo e a abracei
forte, concordava que fantasmas e monstros eram maus, mas humanos, humanos são
loucos.
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